Eu entro e saio pela porta dos fundos, de forma mais silenciosa possível. Não quero incomodar, não quero aparecer. Que não se note o que há de bom, nem o que há de ruim, apenas que não se note. Subo várias andares de escada. A cada interação social, um esforço mental enorme para parecer social, normal, amiga, companheira, camarada, engraçada. Esforço para tentar sair da bolha em volta de mim, na qual me sinto confortável. Como aquela kitnet que é pequena, mas você ama, pois tem tudo que precisa - e tudo está em seu lugar. Esforço para que a dor de barriga passe, assim como o aperto no estômago, facilmente confundido com borboletas. Poderão ser borboletas? Não, pois esse desconforto machuca devagar e a cada dia. Até o fim dos tempos. Tudo é cinza e sem cor. Do pouco que vejo dentro da minha bolha, percebo que ninguém fala o que quer, todos falam o que for preciso para se encaixaram, serem engraçados, cômicos, normais, sociais, amigos, companheiros. Mas eu entro e saio pela porta dos fundos, de forma mais silenciosa possível. Fugindo da dança social que me persegue, na qual sou obrigada a participar, para ser social, normal, amiga e companheira. Eu entro e saio pela porta dos fundos, e quando na minha casa eu entro, sair eu não quero mais. Nunca mais se fosse possível. Comemorar eu não quero, visitar eu não quero. Me arrumar, eu não quero. Me envolver, eu não quero. Quanto mais silencioso melhor. Quanto mais eu melhor. Eu entro e saio pela porta dos fundos, de forma mais silenciosa possível, pois assim, chorar eu posso. Explica, explica, explica, QUAL O MOTIVO DE TANTA TRISTEZA? Tem tudo que quer, pra que isso? Não tem motivo, não tem o que explicar, eu não posso me manisfestar dessa forma. Eu não posso definir e nem quero. Graças a zeus choro não é feito de palavras. Assim não tenho que explicar nada para ser social, normal, amiga, companheira. O choro me acompanha sempre, e não pergunta como eu estou, não nota que eu cheguei pela porta dos fundos. Não pergunta qual o motivo da minha tristeza. Ele acompanha minha tristeza, observa, faz as borboletas irem embora, sempre pela porta dos fundos, de modo mais silencioso possível.
sábado, 16 de setembro de 2017
sexta-feira, 15 de setembro de 2017
Tema Cliche
Talvez de todos os sentimentos, um dos mais devastadores seja a saudade. Falar de saudade é batido, clichê e ninguém se importa porque não é novidade. Porém, incrivelmente, descobri que era novidade para mim. Não a saudade que é saciada em um dia, ou em uma semana, ou em um mês, mas sim a saudade na qual se tem a consciência de que não vai ser saciada tão cedo. Talvez essa consciência seja o que liga o botão mais desesperador das nossas mentes, a impossibilidade de se livrar da saudade. Quando você está com raiva, basta morder a própria mão. Ou berrar com alguém. Ou simplesmente ir dormir e começar um outro dia, já que quando acalmamos a nossa mente, repensamos certos motivos para estarmos com raiva e nos acalmamos. Se você estiver triste, você pode simplesmente comer muito doce, ou ir no cinema. Ou chorar até morrer e ir dormir que no outro dia as coisas melhoram! Agora a saudade não tem abrandamento, não diminui com o tempo, você pode comer o que quiser, gritar com quem você quiser que no fim do dia você continua com saudade. Você pode dormir, que no outro dia a saudade continua lá. Um sentimento de vazio que não se preenche com nada além do objeto de saudade. Nunca tinha sentido nada parecido, um tipo de desespero contido, pois sabemos que se desesperar também não vai adiantar. Nada adianta. O que adianta é esperar, o que continua não sendo suficiente para o agora. Não há preparação para a saudade. Se você é pego de surpresa, o vazio se instala. Se você recebe o aviso prévio de despejo e tenta se preparar, também não adianta nada, pois inconscientemente você so pensa em aproveitar o tempo que tem e esquece de fechar todas as frestas por onde a dor vai passar. E, quando tudo se vai, você percebe que a torneira estava aberta, a porta escancarada e a janela esquecida em plena chuva que molha tudo. E quando seca mofa.
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